sábado, 19 de novembro de 2011

VII

VII

Com o tempo , Renata foi descodificando e desossando a personalidade de Túlio Bernardo com o convívio diário. Tal convívio, ora pacífico ora turbulento, lhe dava uma sensação ainda que irreal de que ele estava ligado a ela por laços afetivos.
Mais ligado ficou ao descobrir, por acaso numa conversa, que ela tinha conhecido sua irmã Alma Nívea no antigo ginásio e ficou muito feliz com esta coincidência. Somente viu a sua irmã uma única vez e não esqueceu jamais seja pelo nome incomum seja pela cor que carregava nos olhos: um azulado cerúleo.
A bebida o deixava mergulhado em antíteses e paradoxos a ponto tal que esquecia o que negava minutos antes e depois caía em contradição. No ano em que se conheceram, não poderia Renata jamais lhe presentear no dia dos namorados. Namorado causava um desagradável mal estar em relação à Renata e uma responsabilidade extrema. Uma semana antes do dia 12 de junho para não lhe entregar o presente na data, apareceu em sua casa com uma caixa de artesanato cheia de corações vermelhos. Primeiro, ele a esculhambou dizendo ser um presente cafona. E ao ouvir de Renata que estava decidida a não mais se relacionar com ele a partir daquele dia, Túlio Bernardo parecia se sentir abalado com tal resolução e lhe perguntou assustado:
- Você vai me abandonar?
Diante da recusa do presente que não lhe teria nenhuma funcionalidade, ela aventou a possibilidade de transformá-la em uma caixa para seus remédios. A tal caixa, no final de tudo, foi parar nas mãos de sua amiga Rebeka no dia do aniversário dela. Ela tinha se casado cinco vezes sendo a última com um inglês alcoólatra muito mesquinho e de quem roubava a carteira duas vezes ao dia: na manhã e na noite. Alan , in memoriam, era seu nome, e morreu de cirrose hepática. O casal já estava separado, mas não no papel. Ficou menos de 24 horas viúva, pois herdou do defunto o seu melhor amigo como novo marido e muito mais jovem.
Um dia Nado, em tom agressivo, lhe perguntou a respeito da tal caixa e que ela havia prometido transformá-la em uma de pequenos socorros. Foi ríspido e ela ficou surpresa por ele ter se lembrado da nova função que daria ao presente e, ao mesmo tempo, exigindo que assim o fizesse. Mas, a caixa não era cafona?
Eram situações, diálogos, respostas com ou sem nexos e anexos. Faziam ela perceber que de um modo ou de outro, ele gostava dela. Era doido. No entanto, por várias ou uma única razão não assumia seus sentimentos. Alegava que já estavam velhos para namorar, de sair de mãos dadas pelas ruas, irem juntos ao cinema y otras cositas más . É porque ele não leu O amor no tempo do cólera, de Gabriel Garcia Marquéz. Mas, o que seria anormal se eles se gostavam como tanto outros casais que se queriam bem e curtiam o amor em todas as idades e em todos os lugares do planeta? O amor entra e sai do coração sem pedir licença já dizia o fiel escudeiro de D. Quixote de La Mancha, Sancho Pança. Qual era o problema de estarem juntos se tinham algo em comum ainda que de uma ora a outra ele o negasse e afirmasse?
Foi assim que, pouco a pouco, ele foi desabafando o sentimento que vinha logo após as noites e dias de bebedeira e cheiração. Ficava virado três ou mais dias. Não comia. Era um sentimento vazio como algo oco dentro de si sem recheio aparente que pudesse preencher a sua existência. O efeito de tudo e de todos nestes prazeres momentâneos era o vazio existencial e o cansaço como se tivesse carregando uma tonelada de pedra sobre as costas. Um mal estar físico que conjugado com os problemas estomacais lhe deixavam, praticamente, reduzido a zero e deprimido na cama.
Não adiantava nada porque não se emendava. A dependência era algo mais forte do que ele e incontrolável. Nem a própria Renata jamais tentou fazê-lo porque sabia da inutilidade de sua ação nunca jamais cometida. Ela o ouvia e sentia o quanto era um homem sofrido e amargurado. Um homem sobrecarregado de muitas culpas que não merecia advindas da infância devido à criação que recebera. Todos os relacionamentos afetivos que, até então tivera, com pessoas dependentes químicas, tinham como cerne do problema o mal relacionamento com o pai. Foi assim com Lucas, Pancracius e com ele. Todos haviam medo da figura paterna enquanto eram mais ligados às sua respectivas mães.
Na juventude, chegou a freqüentar uma psicanalista durante três anos e em vez de tratar da sua psique e do seu emocional, comparecia às sessões e inventava o que não existia. Chegou a afirmar para a sua apaixonada que nunca tinha esquecido o que contara à psicanalista seguindo seu falso tratamento de maneira linear e coerente sem atos falhos. Poderia ter se livrado de fantasmas que o atormentavam e ter resolvido questões de seu ser em vez de ficar até aquela idade penando, batendo cabeça contra a parede ou dando murro em ponta de faca, se auto-destruindo e auto-flagelando.
O que mais impressionava à Renata era que no depoimento e testemunha deste limbo em que vivia, não era capaz de abandoná-lo. Soube que, durante dois anos, ficou sem beber e sem cheirar empolgado com o nascimento de Iracema. Comparecia a um grupo de auto-ajuda, mas depois o largou e voltou à ativa. Afirmava que parecia ter cunho religioso o que contrariava as suas convicções de ateu convicto e por tal motivo o deixou. Parece que não partilhava nas reuniões e dizia que, logo após, os dependentes químicos iam se drogar. Muitos deles aparentavam uma posição e na saída das reuniões eram diferentes. Quis ser original e assumir o que, realmente, sempre foi em toda a sua vida: um dependente químico. Disto se vangloriava ao narrar as aventuras e peripécias para obter as drogas ou então as viagens que empreendia com amigos da faculdade para tal propósito. Chegou a fazer a famosa viagem do Trem da Morte para países andinos saindo do Brasil. Disse aos pais que iria em busca de vestimentas feitas de lã de lhamas para revendê-las no Rio de Janeiro em pleno país tropical , abençoado por Deus e bonito por natureza. A viagem foi de uma envergadura tal que durou oito meses e ainda tiveram que se deparar num vagão com o grupo terrorista peruano Sendero Luminoso. Apavorados, todos foram salvos graças ao desempenho de uma das participantes, Mônica, e logo após até fotografias tiraram com o grupo. A cocaína rolava solta e era cheirada numa colher de sopa cheia.
Sempre esteve envolvido com bebida e drogas e em decorrência disto, esquecia do que tinha feito ou dito e muitas das vezes, era a sua apaixonada o seu hard disk ou disco de memória. Apesar de fazê-lo relembrar do que falara ou fizera, ele próprio em sã consciência admitia não tê-lo feito por acreditar ser um absurdo descomunal. Mas, Túlio Bernardo era o próprio absurdo em determinadas atitudes que deixavam Renata surpreendida principalmente após os inúmeros entreveros. Eram de tais proporções de agressões verbais de ambas as partes que acreditava ela ser o término de tudo então daquilo que tinham vivido. E sofria. Depois de passada a tempestade vinha a bonança, ainda que, após vários meses eles se reencontravam como se nada tivesse acontecido embora acertassem as arestas. Ele a recebia de volta e entregava a chave que inha e vinha num vai e vem in modus continus.
Se, em vez de ficar na retaguarda, assumisse não como namorada, noiva ou mas qualquer coisa que o valha, tudo seria tão simples e menos sofrido para ambos. O que atrapalhava era a sua cabeça e coração confusos e seu medo inconseqüente de se relacionar com subterfúgios porque ela o adorava de um modo incondicional sem pedir nada em troca. Fazia por ele as coisas mais impossíveis e não media conseqüências porque sentia-se feliz ao fazê-lo menos infeliz do que era. Sabia o que era o amor e o sofrimento por tal sentimento. O que adiantava se esconder dela se, na verdade, depois de tanto rolo ele voltava como afirmou uma vez a ela pelo telefone pedindo para não haver mais entreveros. No final da conversa, afirmava:
- Eu sempre acabo voltando!
Era um osso duro de roer esta relação. Um reclamava às vezes do outro, mas não se largavam e parecia ser um pathos o que havia entre os dois. Era tudo muito divertido mas, ao mesmo tempo, patológico. Ambos nutriam pelo outro o mesmo sentimento. A única diferença que existia era a de que um se declarava e outro se mascarava. Os deslizes que, às vezes, não de dava conta como aquele em que preparou para a sua apaixonada o macarrão ao alho e óleo que era a sua especialidade. Diante do fogão e com a colher de pau na mão mexia a panela e exclamava:
- Nunca preparei um alho e óleo assim tão bem para uma namorada!
Em um ano do qual não se recorda, Renata estava na casa dele no dia dos namorados e caía num sábado. O dia da semana lembrava nitidamente menos o ano como também se recordava da situação. Estavam na iminência de discutirem quando ele lhe pediu:
- Não vamos brigar hoje, logo hoje..... !
E não completou a frase, deu tempo a si próprio de deixá-la incompleta. Será que tinha medo de que ela se tornasse mais apaixonada e, conseqüentemente , mais possessiva já do que era? Era uma mistura de possessão e ciúmes porque ele não dava certeza de nada e isto a deixava num estado de expectativa e angústia. Sentia-se mal correspondida, mas sempre estava junto a ele e este por sua vez a queria de alguma forma estranha que ela não conseguia entender. Era muito estressante tanto para ela quanto para ele. Afinal, não era muito diferente dos companheiros do grupo de auto-ajuda que freqüentava. O enredo era o mesmo, a negação era a mesma, a degeneração também era a mesma. O que mudava era apenas o sexo e o endereço do parceiro ou parceira devido ao alcoolismo. Com cocaína rolando junto, a situação ficava mais complicada. Era como dizia sua amiga Nadine, alcoólatra em recuperação. Se a questão afetiva com pessoas normais já era complicada, imagine com quem era alcoólatra!?
Uma noite de quinta-feira convidou-o para viajar com ela à uma região de praia e, logicamente, ele declinou do convite. Foi algo aleatório. No dia seguinte, por alguma razão, não foi à casa dele e nem tampouco lhe telefonou. À noite, resolveu procurá-lo pelos bares das redondezas quando o avistou de longe devido à sua altura e também pela roupa que usava. Estava ele acompanhado de um homem e quando a viu chegando de mansinho porque assim ela o fez de maneira acanhada e com vergonha, ele exclamou:
- Cabra, você por aqui? Pensava que tinha viajado!
Apresentou-a ao homem dizendo que ela desempenhava para ele o papel de mãe, irmã, amiga e não completou mais. Talvez poderia dizer mulher, companheira ou amante. Em vez disso, virou-se para ela enumerando nos quatro dedos o grau de afetividade que sentia por determinadas pessoas de sua relação. A primeira era a filha mais nova Eleonora, a segunda seu pai, a terceira Iracema e a quarta era ela podendo passar para o topo de todas as outras. Falou isto com um copo de bebida na mão e de certo estava in vino veritas. E também de certo se ela lhe recordasse o que havia dito naquela noite acompanhado daquele homem, diria que não havia dito nada disto. E mais ainda, apresentou-a ao amigo dizendo ser ela amiga de confiança e que quando precisasse de alguma coisa e, evidentemente, esta coisa seria um ou dois papelotes de cocaína, seria ela que viria buscar a mando dele. Nunca aconteceu isto porque jamais ela o faria porque o seu amor por ele não chegava a este ponto de se arriscar. O sonho de consumo dele era que ela o acompanhasse numa boca de fumo. Tentava persuadia-la alegando total segurança. Algumas vezes quando saía para comprar a droga, era pego pelos policiais e tinha que soltar alguma propina para não ser indiciado no terceiro artigo como usuário. Não havia santo que a arrastasse para que o acompanhasse. Por que em vez de convidá-la para ir a uma boca de fumo, não a chamava para perto de sua própria boca e lhe dava um beijo?

VII

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

VI



Gostar ou não gostar, eis a questão! Foi aos poucos que Renata foi conquistando a confiança do seu amado. E quem sabe um amor mal sentido?  Até a senha do cartão de crédito dele , ela o possuía, tal a confiança que depositava naquela doida.  Foi no tempo em que ainda era professor na universidade. Podia se dar ao luxo de todo dia 28 do mês, bancar a patifaria para seus “amigos”. Na vez em que ficou com o cartão de Nado, retirou somente a quantia de vinte reais. Ele  disse-lhe que podia tirar quando quisesse.  No entanto,  alertou para que não visse o seu saldo para não se assustar. A senha era a data de nascimento de sua filha mais velha, Iracema.

Poderia se fosse outra, retirar mais após ver o saldo, mas Renata era uma pessoa de boa índole apesar do seu temperamento intempestivo.  Era capaz das mais ousadas ações que deixavam Nado estupefato como aquela que dormiu em sua casa enquanto passava por uma rebordosa das mais brabas.  Nunca revelou o verdadeiro motivo que a fez dormir ali. Vinha-lhe à mente a morte de Pancracius.  Como não tinha o hábito de dormir fora e sua mãe era muito tradicional, ela teve que recorrer a um subterfúgio.

 Nado havia já estado em sua casa quando ela o convidou para ver suas esculturas e pregar alguns móbiles no teto de seu quarto porque ele era alto como um poste.  Foi num domingo, dia dos pais, ele vinha da visita às suas filhas que moravam com Laida.  Como moravam perto de uma boca de fumo, aproveitou e comprou o pó seu de cada dia. Ao chegar na casa de Renata, foi apresentado à mãe dela que num dado momento percebeu algo estranho naquele homem. Estava muito alegre , de uma alegria incomensurável após ter cheirado no quarto dela e no banheiro.  Renata teve que conter a mãe na cozinha para que ele pudesse dar cabo do que queria.  .  De repente,  Da. Maria Teodora, sua mãe, a chamou ao toalete . Perguntou se ele era drogado e ela respondeu:

- Não, imagina! – com muita convicção e veemência.

A partir deste episódio a sua presença foi tida quase que como persona no grata na casa. Para se encontrar com ele , inventava mil caôs  com pessoas fictícias, lugares verdadeiros onde já tinha estado e programas alternados .  Um álibi seu era a sua amiga  Nadine, uma descendente de holandeses, alta e ruiva. Toda vez que ia à casa de Nado , dizia ir à casa dela ver filmes em DVD  de  Jean Paul Belmondo, ator francês.

Na noite em que resolveu dormir em sua casa , inventou que iria para a casa dela. O motivo era o calor abrasador daquele verão que fazia com que o sol batesse na parede de seu quarto. À noite era impossível dormir naquele forno. A convite de sua amiga, segundo Tatá, foi dormir    onde poderia desfrutar de uma noite bem dormida com ar condicionado.  Foi assim que pela segunda vez dormiu na casa dele . A primeira vez também  inventou outro caô. Disse que por problemas emocionais, sua amiga não queria passar a noite sozinha por estar muito deprimida. Lá foi ela dormir na casa do seu amado. Das cabeças dos dois saía uma fábrica de birutices e da  dela uma de vários caôs para poder estar ao lado dele.  A sua permanência em casa foi de tal modo ausente que uma vez Dora, como era conhecida sua mãe, lhe disse que ela parecia ser hóspede de um hotel. Somente aparecia em casa para dormir.

Por três vezes anteriores , Tatá decidiu dormir na casa de Nado dizendo que iria fazer um arrebol. Era o termo que ela havia citado como outros para designar que iria ficar ali com ele até o alvorecer. Como ele não sabia o que era arrebol, explicou-lhe que era um  vocábulo muito usado pelo poeta dos escravos, Antônio Castro Alves. Foi inútil tentar dormir ao seu lado porque ele não parava de falar de tudo e de todos . Ela viu o dia amanhecer enquanto sua mãe lhe telefonava para voltar para casa  e que estava intranqüila.  Num desses arrebóis, ao voltar para casa cedo pela manhã e com as feições carrancudas de sua mãe e de Consolación, exclamou:

- Se se relacionar com um homem e dormir com ele é esta revolução, vou agora me relacionar com uma lésbica!

As duas não disseram nada.  Ficaram mudas, caladas, imóveis como estátuas marmóreas.

Aquela noite da rebordosa foi angustiante para Nado e ele se espantou ao vê-la lá embaixo por volta da meia-noite chamando-o pelo seu nome. Pediu-lhe que não saísse de casa  e que iria comprar cigarro e dormir ali com ele. Este dormir nada mais era do que uma assistência já que estava passando muito mal. Home care. Não adiantava nada porque após este mal estar sempre presente, no dia posterior sairia para beber. Nado vomitou a noite inteira enquanto Tatá dormia no colchão onde haviam dormido todas as pessoas que por algum tempo tinham se abrigado na casa dele como o próprio  Olavinho.  Dormiram no mesmo quarto e somente pediu que abaixasse o som da televisão, pois ela não dormia com barulho, o que foi atendida muito mais tarde.  No meio da madrugada , despertou ao ouvir um rumor. Era ele que não conseguia dormir e estava se levantando da cama para ir ao toalete. Foi quando ela lhe perguntou para onde ele iria e não soube mais da resposta porque caiu no sono novamente.  Despertou muito cedo com a claridade do dia que amanhecia e foi direto para a janela fumar. Era o seu único vício e em demasia. Fumava a rodo. Até Nado e seu amigo larápio haviam comentado a ela o tanto que ela fumava. Era a proporção da quantidade de bebida e drogas que eles consumiam.  Era muito cedo ainda  por volta das seis e meia da manhã e nada estava aberto. Nado tinha passado para o outro quarto e ali deitado no chão exclamou para a sua apaixonada:

- Estou carente, mas não de namôro!

Renata deu-lhe um beijo na testa e quase lhe respondeu que não precisava disso porque era ela quem o namorava e não ele em relação a ela. Foi uma noite muito pesada já que Nado além de  sofrer de dependência cruzada , tinha úlcera no estômago, uma ferida tão aberta , vermelha e exposta. Parecia ser uma verdadeira boceta.  Ela viu  em sua ultrassonografia depois de passarem quase qautro meses sem se falar. Foi ele quem a procurou chamando-a por Renatinha quando a encontrou na porta do prédio dela. Ela levou um verdadeiro susto. Uma atitude como quem quisesse  se aproximar usando o nome dela no diminutivo. Estava ele com a ultrassom debaixo do braço e ele convidou-a para ir à sua casa.  Renata havia dito que o afastamento fez com que ela tivesse cortado um dobrado e sofrido muito. Ele apenas disse:

- E  eu ?

A úlcera era e não era tratada com medicamento. Ele chegou a se consultar num especialista sem deixar de revelar seus vícios. Não tomava a medicação de maneira constante ´porque o que tomava com frequência era a sua cachaça sagrada de cada dia. Pantocal, o nome do remédio e seu genérico era Pantocrazol. Até os remédios que ela tomava por duas ou três vezes , ela comprou para ele quando estava em estado lastimável.  Não media esforços para não lhe deixar faltar nada para que se sentisse bem de saúde orgânica e emocional.

 O relacionamento deles era sazonal. Às vezes bem e muitas vezes mal.  Ela também o perseguia muito porque era a sua fonte de alegria e queria sempre estar ao seu lado. Renata era uma pessoa triste.  Quando sumia no mundo, voltava muito tempo depois como se nada tivesse acontecido. Renata sentia-se como se ele tivesse partido para nunca mais voltar e ficava a ver navios. À parte esta sensação de abandono crônico em sua cabeça, vinham-lhe hipóteses as mais trágicas: uma prisão, uma briga com arma de fogo ou arma branca, uma internação, desaparecimento total sem deixar pistas  por causa de dívida de drogas ou algo do gênero.  Em vez disso, estava sumido em meio às suas zoeiras de sempre com os mesmos companheiros de patifaria, se entregando de maneira desenfreada às putas atrás de um prazer passageiro  quando não falhava o pau.  Logo após as noites inebriadas e entorpecidas,  caía na tumba de sua cama durante semanas num cansaço inesgotável.  Renata o tratava com muito carinho mais do que um próprio namorado nestes momentos.  Talvez se assim o fosse não seria tão paparicado e mimado por todos os lados.  Muitas das vezes quando surgiam os  entreveros, não conseguia conter o seu furor e a sua língua ferina  e o insultava sem dó e compaixão.  Certamente, nunca foi, ao  mesmo tempo, tão bem amado e querido  e enxovalhado, esculachado, esculhambado, avacalhado, anarquizado, tripudiado, humilhado e por que não dizer xingado!?  Para depois ser mimado, adorado, venerado, idolatrado e  o ciclo continuava como um carrossel que ele retroalimentava apesar de se sentir culpado. Evocava a lembrança do grande amor de sua vida, Maria Cândida, com quem ficou dez anos namorando e chifrando com as amigas dela e a própria empregada.  Isto era porque Canducha, como ele a chamava carinhosamente, foi o seu  grande amor. Imagine se não o fosse!?  Segundo dizia à Renata, depois de muito refletir e querer a felicidade da namorada , resolveu abandoná-la  para não fazê-la sofrer mais.  Achava-se um cafajeste e ela não merecia este tipo de homem.  A verdade é que Renata nunca acreditou nesta estória , nesta  resolução.  Muitas vezes, ele deixou escapar que tivera duas decepções amorosas na vida. A primeira foi com a namorada Maria Cândida. Mas, não foi ele quem decidiu romper o relacionamento? Por que motivo estaria decepcionado? A outra foi com Adelaide que lhe pregou o golpe da barriga. Ao querer mostrar ao pai que tinha virado homem, era viril e macho, depois de anos sumidos apareceu na casa dele com Laida barriguda. E a partir de então, tudo foi arrumado às pressas. Apartamento mobiliado no qual viveu com a sua mulher que reclamava do local. Dizia ela que morava num cortiço. Na verdade, quando foi à casa do seu futuro sogro em um condomínio de luxo com piscina e churrasqueira botou um olho grande em tudo.  Achava que, no mínimo, talvez também pudesse morar em algo do gênero, mas em vez foi disso acabou parando no último prédio de uma rua que dava acesso a um morro.  O morro onde ele subia e descia quase que, diariamente, e era conhecido como o “professor”. Freqüentava os bares de lá e se dava com as piranhas viciadas que se aproximavam dele com o mesmo propósito: drogas e sexo. Somente isto.

Desta vida , estava cansado e sentindo muitas vezes usado e vazio, assim dizia à Tatá que ouvia pela enésima vez o mesmo argumento e discurso. As pessoas não tinham caráter, ética, sensibilidade, intelecto, nada de nada. No entanto, estava ele no meio delas porque era este o seu mundo do qual não conseguia  sair. Os  momentos mais tranqüilos, por assim dizer, passava ao lado da sua apaixonada assistindo à televisão, programas cômicos, novelas ou  partidas de futebol. Logicamente, regado com cachaça  que ela descia para comprar para ele numa vendinha próxima, Todos sabiam já que era ela a “ mulher” do doidão  ou então também uma cachaceira. Apenas aparecia na porta do estabelecimento já lhe vinham entregar a bojuda da caninha da roça. Acabou levando fama sem proveito, mas pela sua aparência  percebiam logo que era pessoa avessa aos vícios prejudiciais à saúde.  Nado dizia não poder ir comprar , pois se botasse o pé na rua , certamente, iria para a patifaria e por este motivo pedia à Tatá que o fizesse por ele. A realidade era que Nado  sempre foi muito preguiçoso e se comportava como um pachá .Isto porque sentia-se culpado nesta relação e repetia sempre que não queria alimentar uma coisa que não existia dentro dele. Tinha amado somente Maria Cândida na vida. E Renata pensava consigo que, além de  dependente cruzado, era mal resolvido afetivamente pelo tempo até então passado , muito conflituoso e sempre querendo que Tatá ficasse  feito um porto seguro ao seu lado.  Afinal, como decifrar o enigma desta esfinge?
V



Além da fantasia adquirida através da leitura de diversos autores seja de prosa seja de poesia, Renata usufruía de uma imaginação fértil além de um sarcasmo e ironia inerentes  à sua personalidade.  Embora transmitisse alegria pelos olhos expressivos e brilhantes, tinha dentro de si um sentimento de abandono desde pequena. Somente depois de muitos anos seja dentro ou fora do divã do psicanalista, veio a entender que era uma pessoa  triste, mas irradiava justamente o contrário.

Aos 24 anos, em agosto de 1984 , escreveu uma carta ou um bilhete a um destinatário inexistente. Nela dizia  que a chuva e o frio varriam a noite lá fora e se sentia, abandonadamente, só com um gosto mal pronunciado nos lábios de jornal amassado.  Prosseguia que  ficava se recordando quantas vezes seu peito se transformava em uma garrafa vazia. Constantemente, estava sendo exprimida.  Se calava dentro de si o silêncio moribundo dos cemitérios e isto tudo a deixava cansada.

Uma tristeza  pesava em seus olhos e os sentia enviesados devido a isto  e tudo se tornava mais pesado.  Era quando  o tempo permanecia cinzento, quando a chuva lambia a calçada com suas gotas prateadas e molhava a sua língua sedenta de sílabas e palavras.  Confessava  ter medo de reter esta sensação  por muito tempo carregando sobre as suas costas feito um fardo ou uma cruz.  Como tudo isto iria embora e  lhe deixaria de lado, ela mesma não sabia.  Sentia falta de  se ter nos braços de alguém. Alguém que conversasse com ela e que a chamasse pelo nome para estar certa  que de alguma maneira existia. Para qual propósito, não sabia.  Queria deixar o seu corpo  tremendo em algum leito repleto de calor e acordar vomitando letras, gestos e olhares.

  Tinha muito medo de entrar novamente em um estado de depressão contemplativa que a levasse à loucura. Vontade de falar que estava cansada de viver mesmo sabendo que não o tinha feito muito ainda. Tinha menos que 30 anos.  Queria relaxar o corpo muito tenso e repetia  estar sofrendo mais a cada dia que passava. Afirmava não saber se disfarçava bem.

            Durante muito tempo, esta forte sensação lhe dominava a mente e somente aos poucos foi se libertando de pensamentos que boicotavam o seu subconsciente, inconsciente e consciente.  Foi necessário, a conselho de seu psicanalista, entrar num atelier ou oficina de arte para poder extravasar esta angústia existencial que a detinha em vários aspectos da vida sobretudo na parte afetiva. Esfera da sua vida da qual mais sofria porque nutria por si mesma um sentimento de baixa auto-estima quando, na verdade, era uma pessoa inteligente, culta, bonita, simpática e altruísta.

 Foi, através da escultura, que encontrou o seu caminho para se desgarrar das amarras e nós que  atormentavam a sua existência.  A identificação e a paixão por esta arte foi de  uma proporção e imensidão que conseguiu  ir estudar  no exterior. Permaneceu quatro anos em Paris  e com o francês fluente que aprendera enquanto esculpia, começou então a dar aulas de francês quando de volta ao Rio de Janeiro.  Era de fato professora da língua de Charles Baudelaire , mas não de direito.

 Não possuía nenhum documento que a certificasse que era professora com licenciatura. Foi quando ingressou numa universidade e pôde assim estudar mais a fundo a língua francesa e obter os certificados de bacharelado e licenciatura plena.  O ingresso na faculdade de letras lhe fez  modificar o astral  de tal maneira que quando, por ventura, não comparecia às aulas por algum motivo , sentia que algo estava incompleto neste dia.  Mais tarde, os anos foram ficando monótonos e iguais com as mesmas pessoas, os mesmos assuntos, professores mais, menos ou mal preparados.  Não via a hora de complementar o curso e sair com o diploma pronto .Se algum aluno particular lhe perguntasse onde havia aprendido a falar tão bem, teria uma resposta e um certificado para mostrar.

  Começou a ensinar desde 1996 colocando anúncios classificados num jornal tradicional já extinto.  Depois de conhecer um grego que se tornaria seu noivo, Pancracius, por estímulo dele adquiriu um computador e daí a procura foi bem maior.  Colocava anúncios grátis em vários sites e muitos  alunos teve a partir daí, mas já não estava mais com o grego.   O noivo tinha intenção de casar com ela por um único  motivo: obter a cidadania brasileira. Estava no Brasil cursando mestrado em arquitetura e terminado o curso teria que voltar para  Atenas. No entanto, decidira morar, definitivamente, no Rio de Janeiro, cidade onde estava desde o tempo em que era clandestino e com o visto expirado. Como mestrando, tinha o visto legalizado. Seu propósito era ficar na cidade maravilhosa onde era tudo o que ele mais desejava na vida. Tinha, então, 51 anos e ela tinha 43.  Procurava um modo de  permanecer por  aqui e o mais certo que havia encontrado era casar com Renata.  Uma mulher culta, mais jovem do que  ele 9  anos, viajada, poliglota. Tudo em cima.   Renata gostou muito dele, mas também era um alcoólatra e cheirava pó.  Talvez fosse a sina dela  , parecia ser um imã estas pessoas com quem mantinha amizade e depois nascia o afeto, a paixão e o amor .  O casamento não foi levado adiante porque não tinha que ser graças ao próprio Pancracius. Vítima de câncer no fígado , morreu e ela soube de seu falecimento por telefone.  Foi um noivado turbulento e muito aflito devido à  sua dependência química  que ela ignorava ser de grau tão elevado.  Quando veio a falecer, ainda gostava dele e mantinha contato com um informante para ter notícias a seu respeito.  Foi assim que soube  do seu casamento com uma alemã, de nome Uta., não tendo sido consumado por ele  estar doente. Ao saber do seu estado crítico de saúde entrou em contato com ele  deixando-o feliz. Foi visitá-lo, mas o seu emocional estava muito abalado e somente o viu por duas vezes. Depois destas duas vezes, tratou-a tão mal pelo telefone que ela resolveu abandoná-lo de vez. Foi quando voltou de uma viagem a Búzios que soube de seu falecimento.  Morreu sozinho acompanhado do seu cachorro, pois  Uta não morava com ele.

            A partir desta experiência e de sua imaginação fértil, Tatá se preocupava demasiadamente com Nado devido ao mesmo retrato falado do companheiro anterior. Havia até um cachorro na estória dos dois.  Drogas e álcool, morando sozinho com  poucos recursos.  Como morava próximo  à casa dele, era sair somente de seu prédio, dar uns poucos passos na calçada e olhar para a direita e avistar a janela de seu quarto.  Foram muitas e muitas as vezes que ela  procedeu deste modo decifrando e especulando hipóteses sobre a janela aberta ou fechada com a luz do quarto acesa ou apagada.  Mil pensamentos vinham-lhe à cabeça, pois muitas das vezes os dois estavam brigados ainda que possuísse a chave do seu apartamento.  Poderia ir até lá para ver se estava tudo bem ou precisando de algo.  A verdade era que não ia enquanto ele não a chamasse, pois tinha medo de encontrá-lo com uma vagabunda que era bem do feitio dele este tipo de mulher e atitude.

 Suas hipóteses a amedrontavam ainda mais quando o celular não respondia, ou quando funcionava era pelo final da tarde. Durante do dia, ficava na aflição sem saber o que, realmente, estava acontecendo. Poucas foram as vezes ousou ir sem avisar com o coração apertado e o medo de encontrá-lo com uma vadia. Nunca encontrou.  Poderia até ter feito isto no dia em que telefonou para ele e respondeu que estava em casa com uma amigona” das antigas”. Deduziu logo que, de certo, era uma puta e adentrou o apartamento.  A porta do quarto estava fechada, bateu na porta e por debaixo dela jogou as chaves do apartamento. Foi um sinal de raiva, protesto como querendo dizer que não queria mais saber dele.  Foi incapaz de abrir a porta que não estava trancada para ver o que estavam fazendo e quem sabe cair na baixaria e pancadaria.  Achou que seria muito  rasteiro de sua parte se comparar a uma puta. Por isso, foi embora ao encontro de Lucas com quem já havia programado passar a tarde ao seu lado na cama. Foi num dia de jogo de Copa do Mundo quando o Brasil foi desclassificado pela Holanda.  O vento que soprava cá , soprava lá também.  Na volta para casa  encontrou Nado na esquina.  Disse que tinha ficado muito entristecido com o que ela fizera jogando as chaves e, mais uma vez, as devolveu a ela.

Era um tal de devolução de chaves para lá e para cá que foram incontáveis as vezes. O ato para ela tinha o significado de não querer mais freqüentar o apartamento dele. Mas, era como  filme de Glauber Rocha. Sem roteiro e tudo acabava bem.  Estas chaves vieram parar  nas mãos dela quando ele viajou para o Nordeste com o pai e pediu-lhe que tomasse conta de seu apartamento.  Em uma semana arrumou o apartamento todo jogando fora as roupas velhas, forrando o colchão com lençol e colcha e os travesseiros fedorentos com  fronhas dela.  Colocou um tapete de artesanato no chão do quarto e ao entrar na sala chegando de viagem, ele pensou que estava entrando no apartamento errado. Deparou-se com um pequeno pinheiro natalino em cima da única mesa decente e de mármore que tinha em sua sala minimalista. Era o mês de dezembro poucas semanas antes do dia de Natal..

Desde então, Renata ficou com as chaves da casa dele e até mesmo quando Nado não estava lá, ia para arrumar seu quarto e a cozinha, ou fazer algo de comer para ele e colocar na geladeira. Era para passar a madruga como ele sempre dizia já que não conseguia dormir.  Nado chegou até a dizer que  Renata era a pessoa que mais circulava naquele prédio e realmente era.

 De outra feita, uma das moradoras ao vê-la entrar a questionou se era  moradora.  Era bem cedo de manhã no horário do breakfast.   Ela foi breve e concisa. Disse que não era moradora e sim amiga de um morador, mas não mencionou quem era a pessoa.  Sua presença diária começava a ser notada e para alguns moradores até incomodavam por questões de inveja e ciúmes, pois tinha até as chaves.  Como um doido daquele porte poderia receber todo dia a visita de uma mulher que, ao menos aparentemente, parecia não ser drogada e muitas vezes entrava no prédio com sacolas de supermercado? Quem era esta tal mulher? Esposa, namorada, noiva, parente ou amiga?   E que entrava e saía numa desenvoltura a hora que queria, dizendo apenas: bom dia, boa tarde e boa noite com quem encontrasse pela  escada sem dar a mínima? E nas horas dos atritos, não tinha medo de nada e de Nado  e saía do apartamento gritando pelos corredores. Vai para a puta que pariu, vai se foder, vai tomar no cú! Sem a menor cerimônia. Escandalizando o que já tinha sido escandalizado há vários anos por ele.   Os vizinhos do prédio ao lado ouviam as brincadeiras e também as desavenças entre os dois doidos. Mas, depois estava ela lá abrindo o velho portão azul num sábado ensolarado e subindo a escada que dava acesso ao apartamento do seu amado.  Da onde vinha,o que fazia, por que fazia, como fazia, por que toda hora fazia?

Na verdade, o expediente de Renata era , praticamente, full time porque além de fazer o que tinha como obrigação nas suas aulas de francês y otras cositas más sempre estava ali ao lado de Túlio Bernardo. Foi somente em doses homeopáticas em que ele começou a apresentá-la a apenas dois amigos como a sua “amiga” e que participava como testemunha ocular das zoeiras que os três faziam com drogas e bebidas. Nado conseguia se segurar assim como Isidoro cuja dependência não era tão intensa quanto a de seu amigo.  Douglas chegava a ventar  como afirmava Túlio Bernardo. Por ser magro, o seu amigo além de alcoólatra, dependente de cocaína também fazia uso de crack e caminhava na rua conforme o vento o guiasse. Era tipo o vento levou. Eram já figuras conhecidas dos bares das redondezas que freqüentavam e que também eram pontos de venda de tóxicos. Em alguns não podiam passar nem na porta por estarem devendo.  Douglas, controlado pelos pais inutilmente, quando não possuía dinheiro para adquirir a cachaça nossa de cada dia, cometia furto nos supermercados. Além destes estabelecimentos, também furtou vários pertences da casa de Nado. Depois da bebedeira e cheiração, ele se adormentava e Douglas aproveitava o momento. Furtava algo e ia embora.  Somente dias depois é que         Túlio Bernardo se dava conta de que algo seu sumia e , por força, somente poderia ter sido pelas mãos do seu amigo larápio.

 Quando Isidoro se separou de sua mulher, foi morar com Nado durante um ano e dele também Douglas furtou várias coisas.  Para Renata, o que mais doeu  foi a jaqueta americana de jeans do Hard Rock Café que tinha dado a Nado por ficar muito grande nela.  Ele usou-a por pouco tempo,  porque Douglas não a livrou das suas mãos ladras.  Todas as coisas levadas da casa de Nado eram vendidas a preço de banana para serem convertidas em drogas ou cachaça.  Em uma ocasião de entrevero com Nado – o que era mais habitual – e sem vê-lo e ter notícias dele, encontrou Douglas na rua. Cumprimentou-o e viu que levava na mão uma faca de um jogo de faqueiro. Apenas uma faca. Dizia ele que iria levá-la a um antiquário para ver o valor e tentar vendê-la.  Saiu apenas com uma do conjunto já que não poderia sair com o jogo inteiro. Como sabia de sua fama de ladrão, concluiu Tatá que iria tentar vender somente aquela, se colasse , colou.  Foi neste dia em que , de repente, ao perguntar por Nado que andava desaparecido, Douglas exclamou:

- O Nado gosta de você!